No fim de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio do Grupo Consultivo Estratégico de Peritos em Imunização (SAGE), recomendou que a dose de reforço da vacina contra a covid-19 não precisa mais ser aplicada em intervalos periódicos à população em geral. Os reforços da vacina seguem recomendada para grupos que possuem mais riscos de desenvolver formas graves da doença. A decisão foi muito comentada e trouxe debates em relação a sua eficácia no cenário brasileiro, mas oferece um entendimento que considera todo o contexto da doença a nível global, conforme explica a médica infectologista do Serviço de Controle e Infecções Hospitalares (SCIH) do Hospital Edmundo Vasconcelos, Paula Peçanha Pietrobom.
“Esse é um grupo da OMS que avalia a eficácia e o custo-efetividade das medidas de saúde pública considerando as evidências científicas e os contextos epidemiológicos ao redor do mundo e que fornece orientações tanto para países com acesso a mais recursos para estratégias de saúde pública quanto para aqueles que têm mais dificuldades. A OMS considerou um contexto em que os países precisam poupar recursos (não é custo efetivo bancar mais doses de reforço para toda a população) e em que a pandemia está muito mais controlada a nível mundial, com infecções mais leves e avanços em relação à vacinação”, explicou.
A decisão tomada pela OMS dividiu a população geral em três grupos. Entre o grupo de alta prioridade para vacinação estão idosos acima de 60 anos, adultos e crianças com comorbidades (por exemplo, diabetes e doenças cardíacas) e profissionais da saúde que atuem na linha de frente. Para esses grupos, há a necessidade de tomar uma dose de reforço adicional a cada seis ou 12 meses após a última dose. Já na média prioridade estão adultos entre 17 e 60 anos, crianças e adolescentes com o sistema imunológico enfraquecido, que devem tomar o esquema básico de três doses sem a necessidade de reforço. Por fim, o grupo de baixa prioridade inclui crianças e adolescentes saudáveis, para os quais doses primárias e de reforço são seguras e eficazes, porém podem ser orientadas de maneira diferente em cada país ou região, considerando o impacto local da doença e outras prioridades programáticas ou de saúde.
A médica infectologista destaca ainda que a recomendação da OMS diz respeito ao cenário atual e que pode ser mudada a qualquer momento. “Pode haver mudanças se surgir uma nova variante com letalidade maior ou se algum outro fator de risco acontecer. Considerando os baixos índices de mortalidade da COVID-19, o posicionamento da OMS parece o mais correto para o momento”, analisa ela.
Cenário brasileiro e cuidados necessários
Paula explica que o calendário de vacinação contra a covid-19 no Brasil prevê o fornecimento da dose de reforço para uma população até mais ampla do que a população de alto risco definida pela OMS. “Acredito que não seja o caso de mudar qualquer cronograma agora e o próprio governo não sinalizou que mudará. O Brasil é um país que possui um sistema de saúde pública voltado para a imunização muito robusto. Historicamente, conseguimos oferecer o que há de mais avançado em vacina para a população e a expectativa é que continue assim”, reforça.
A especialista ainda afirma que é preciso tomar cuidados para que não haja qualquer piora do cenário. “Em primeiro lugar é essencial que quem não tomou pelo menos três doses da vacina o faça o mais rápido possível. O que a OMS está fazendo não é desvalorizar a vacina ou dizer que ela não funciona, mas é reforçar que, no cenário atual, três doses podem ser suficientes para a população que não é de alto risco, nos locais onde outros reforços não estão disponíveis”, frisou.
A médica ainda lembra que também é essencial que as crianças com mais de seis meses e crianças e adolescentes saudáveis sejam vacinadas quando possível com as mesmas três doses dos adultos. Para ela, essa medida ainda é importante especialmente por conta do alto número de mortes de crianças pela covid-19, no último ano. Nesse período, houve uma média de uma morte por dia por covid-19 entre crianças de 6 meses e 5 anos entre 1º de janeiro e 11 de outubro de 2022. “A vacina não está disponível para os bebês com menos de seis meses, mas eles são considerados um grupo de risco. Por isso, forma de imunizá-los é através da vacinação das mães gestantes que também são um grupo de alto risco.”, destaca.
Por fim, a especialista ressalta que os pacientes de alto prioridade são classificados assim por conta do fato da vacina neles não ter eficácia tão grande. “Nesses grupos o organismo, por meio do sistema imune, pode não ter uma resposta vacinal tão boa. E é justamente nestes grupos que a COVID-19 ainda pode ser muito grave. Por isso, a necessidade de tomar as doses de reforço, sempre que disponível”, enaltece ela, ressaltando ainda que outras medidas de controle como a utilização de máscaras em locais fechados e ambientes de saúde, conforme as orientações do Ministério da Saúde, seguem sendo necessárias.
Com informações do portal CBDL.BR (03/05/2023)