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Ministra da Saúde defende aliança internacional contra a desinformação em saúde

No G20, Trindade destacou necessidade de ampliar plataforma brasileira e cooperação global contra fake news sobre vacinas e saúde pública.

No primeiro dia do encontro do G20, no Rio de Janeiro, a ministra da Saúde do Brasil, Nísia Trindade, trouxe à pauta a defesa de uma aliança internacional para o enfrentamento à desinformação em saúde. Representantes do grupo, reunidos nesta terça-feira (29), discutiram estratégias para conter os danos causados pelas fake news, especialmente no que diz respeito à vacinação e à confiança nas medidas de saúde pública. Para a ministra, o problema da desinformação é urgente e requer cooperação global para ser enfrentado de forma eficaz.

Nísia apresentou a iniciativa Saúde com Ciência, uma plataforma interministerial brasileira focada no enfrentamento à desinformação, especialmente sobre vacinas. A plataforma busca garantir que a população tenha acesso a informações confiáveis, provenientes de fontes acreditadas e órgãos governamentais. A ministra também destacou a intenção de expandir essa plataforma para o contexto internacional, propondo ao G20 que desenvolva estratégias coordenadas para proteger a saúde pública e assegurar a implementação de políticas baseadas em evidências.

“A disseminação deliberada de notícias falsas não apenas contamina nossas vidas e o ambiente digital, mas também afeta diretamente a saúde das populações. A desinformação pode causar mortes, e o combate a ela salva vidas e melhora nosso entendimento. É por isso que propomos debater com o G20 para atuar no combate à desinformação”, avaliou a ministra.

O programa Saúde com Ciência, coordenado pelo Ministério da Saúde em parceria com a Secretaria de Comunicação (Secom), a Advocacia-Geral da União (AGU), o Ministério da Justiça e outros órgãos federais, completou um ano de atuação no último dia 24 de outubro. A iniciativa surgiu em resposta ao crescimento de conteúdos falsos e prejudiciais nas redes sociais, especialmente no contexto das campanhas de vacinação. No período de um ano, cerca de 100 mil conteúdos e comentários foram analisados, revelando que as narrativas mais comuns associavam falsamente a vacina contra Covid-19 a doenças como câncer, AIDS, e até controle populacional por meio de chips implantados. 

Iniciativas globais

A reunião contou com a participação de diversos representantes e especialistas de saúde de países do G20 e organizações como a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Jarbas Barbosa da Silva, diretor da Opas, reforçou que a desinformação ameaça diretamente a confiança nas vacinas e destacou a importância de concentrar esforços em fontes confiáveis, como profissionais de saúde e autoridades públicas.

“É fundamental direcionar as principais fontes de informação que as pessoas utilizam e em que confiam para tomar decisões sobre vacinação. Também precisamos preparar nossos profissionais de saúde”, afirmou Jarbas.

Em nome de Portugal, Cristina Rodrigues da Cruz Vaz Tomé, secretária de Estado da Gestão da Saúde, compartilhou as experiências do seu território, onde 75% da população está vacinada contra a gripe e o país tem investido em campanhas de conscientização. “Enfrentamos o desafio cultural de promover a confiança na ciência, e com um plano baseado na ciência do comportamento, temos conseguido avanços importantes”, destacou.

O secretário de Políticas Digitais da Presidência da República do Brasil, João Brant, também enfatizou o papel dos influenciadores e da comunicação voltada para diferentes demografias. “Nossa estratégia envolve parcerias com influenciadores de ciência, como Dráuzio Varella, e o uso de plataformas para fortalecer a imunização e combater a desinformação diretamente junto à população,” explicou. Segundo ele, o governo brasileiro planeja capacitar 400 mil profissionais de saúde até 2027 para atuarem como agentes de combate à desinformação.

Cenário da saúde digital e o papel das big techs

Outro ponto relevante levantado no encontro foi o papel das plataformas digitais e das big techs. Ana Estela Haddad, secretária de Saúde Digital do Brasil, defendeu a importância de dados confiáveis para fortalecer o combate às fake news, destacando o papel do DataSUS. Ela ressaltou a responsabilidade social das grandes plataformas digitais e o impacto que sua atuação tem na contenção ou disseminação de notícias falsas.

“Temos um departamento DataSUS, com 30 anos que produz uma herança no conjunto de dados. Cuidar de tratar os dados esta informação seja confiável. É preciso que as bigs techs assumam suas responsabilidades sociais e tenha consciência do estrago que estão ocorrendo mundo afora”, destacou Estela.

Fortalecimento da confiança no longo prazo

Jagmeet, do Wellcome Trust, destacou que a confiança é um elemento chave. Ela explicou que a instituição trabalha com uma rede de pesquisadores e vozes confiáveis e que é essencial apoiar as comunidades cientificamente para alcançar a população em maior escala.

Com base em estudos recentes, ela apontou que, embora os cientistas ainda sejam amplamente confiáveis, a desinformação pode minar essa confiança. “Nossa missão é apoiar a ciência para resolver os problemas de saúde, e precisamos investir em longo prazo para promover uma relação de confiança”, afirmou. 

Parcerias, inovação e uso de inteligência artificial

Garth Graham, diretor de saúde do YouTube, detalhou ações concretas da plataforma no combate à desinformação, incluindo a marcação de conteúdos verificados e o uso de inteligência artificial para aumentar a precisão da informação. Segundo ele, campanhas de prevenção à dengue e parcerias para ampliar o alcance das informações corretas durante a pandemia de Covid-19 são exemplos de ações já em prática.

“Transformamos a plataforma de saúde, rotulando informações como provenientes de fontes confiáveis, especialmente aquelas que vêm de órgãos governamentais com acreditação. Etiquetamos as informações mais confiáveis. Em relação à dengue, por exemplo, focamos em campanhas de prevenção e vacinação, incluindo exemplos do Brasil. Estamos também utilizando inteligência artificial para aumentar a qualidade da informação”, detalhou Garth.

Ao final do encontro, ficou clara a intenção dos representantes em criar uma frente unificada no G20 para o enfrentamento à desinformação. A ministra Nísia Trindade reforçou a importância de apoiar a ciência e os profissionais de saúde, propondo que o G20 fortaleça estratégias de cooperação para que, em 2024, a população mundial tenha acesso a informações precisas e confiáveis sobre vacinas e saúde pública.

Com informações do Portal Gov.br – 29.10.2024