Pandemia abriu uma oportunidade para o Brasil, mas a ampliação da cadeia produtiva depende de uma política de Estado, na opinião dos debatedores.
Empresários, academia e poder legislativo promoveram um amplo debate sobre o desenvolvimento do parque industrial de Dispositivos Médicos no Brasil, no ‘VII Fórum ABIIS: O Futuro do Setor de Dispositivos Médicos no Brasil’, no dia 25 de agosto, em Brasília.
Dados da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC), apresentados pela pesquisadora Científica do Centro de Tecnologias de Saúde para o SUS/SP, Fotini Toscas, dão conta que os dispositivos médicos representam apenas 11% das demandas de avaliação da Comissão. Ela explicou o processo para as aprovações de produtos para o setor público, mostrou quais as perspectivas, os pontos de melhorias nas etapas de avaliação e incorporação dos itens no SUS e falou de base de dados que geram valor.
Para o professor do Núcleo de Tecnologias Estratégicas em Saúde (NUTES/UEPB), Eduardo de Oliveira, para se ter uma indústria com base tecnológica firme, de médio e longo prazo, a aproximação com a academia tem que ocorrer de forma profícua. “Tem que ser uma política de Estado”, disse. E pontuou alguns desafios. “Para desenvolver um determinado setor é preciso uma gama de conhecimento vasto em materiais, software, eletrônica e automação. Se não tiver uma área de integração entre a pesquisa, o desenvolvimento e a efetiva aplicação na indústria, a coisa dificilmente acontece. Um outro complicador é que nos anos 80 as atividades industriais do Brasil respondiam por quase um terço do PIB. A partir dos anos 90, isso começa a ser desestruturado e hoje falamos em menos 9% do Produto Interno Bruto voltado às atividades industriais, o que é muito ruim.
Moderador do painel, o diretor da ABIIS, Sérgio Rocha, salientou que a pandemia mostrou que todo mundo tem que ter de tudo um pouco e cabe a cada governo ter um planejamento correto para a evolução da sua cadeia produtiva. “Um país como o Brasil, não pode ser uma nação de serviços. A indústria precisa ser muito forte”, complementou.
O diretor de Assuntos Governamentais da Johnson & Johnson, Ronaldo Luiz Pires, também citou a crise sanitária da Covid-19. “A pandemia provou que a articulação global precisa ser mais azeitada. Os países notaram que ficar dependendo de poucas fontes de fornecimento não é uma decisão inteligente. Isso abre uma oportunidade para o Brasil. A intenção de trabalhar no sentido de uma convergência regulatória me deixa otimista de que estamos no caminho”, opinou.
Representando a indústria nacional, o presidente e CEO da Labtest Diagnóstica S/A e professor da Fundação Dom Cabral em Gestão Estratégica e Supply Chain, Alexandre Guimarães, lembrou que o setor écomposto por muitas empresas de médio e pequeno porte. “Há dificuldade de escalabilidade, logística e inovação. Qualidade, acesso e sustentabilidade precisam andar juntos. É necessário encontrar soluções nesse sentido”.
O senador Humberto Costa, que já foi ministro da Saúde, encerrou o painel. “O complexo industrial da Saúde é a solução para o país. O sistema público (SUS) é o maior do mundo e precisa de investimento. Para que esse complexo seja forte, temos que ter capacidade de atrair investidores locais e internacionais. É um projeto que envolve as pastas de Saúde, Ciências e Tecnologia e Economia”, concluiu.
O evento na íntegra está no Youtube: