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Uso de dados no setor de saúde ainda engatinha no Brasil

Especialistas defendem a adoção do prontuário único no país. Documento eletrônico reúne todas as informações de saúde de um paciente ao longo de sua vida.

 

A transformação digital, já consolidada em alguns setores, ainda dá passos lentos na saúde no Brasil. Menos de 30% dos serviços públicos de saúde são digitalizados hoje, de acordo com um relatório da PwC. Além disso, o país não possui atualmente um ecossistema integrado de dados, uma vez que existem cerca de 190 conjuntos de informações de fundações e órgãos ligados ao setor público de saúde disponíveis na internet. Esses são alguns dos desafios enfrentados pela área no país, segundo Patrícia Ellen, presidente da Optum, empresa de tecnologia de serviços de saúde e inovação.

 

“Os brasileiros são muito digitalizados. Hoje nós temos mais celulares do que habitantes no país. Precisamos utilizar dados na saúde”, afirmou ela durante o GovTech, evento promovido pelo BrazilLAB e pelo ITS-Rio em São Paulo. A especialista destacou um dado alarmante: cerca de 80% dos registros médicos possuem dados não estruturados, o que dificulta a integração das informações nos sistemas.

Para Ellen, a discussão mais avançada que existe no setor de saúde atualmente é em relação à adoção de prontuários eletrônicos e únicos. O prontuário único, além de ser eletrônico, reúne todas as informações de saúde de um paciente ao longo de sua vida em um só documento (exames, doenças contraídas etc).

O professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, Gonzalo Vecina Neto, também defendeu a integração de informações na área. “A saúde tem diversas profissões, são linhas de conhecimento diferentes. O prontuário único é mandatório”, afirmou ele durante o debate. Para o professor, os brasileiros, por alguma razão, “resolveram brigar com a eficiência”. “Nós não medimos, não temos métricas. No setor púbico, estamos parados na década de 50, em um tempo pré-digitalização”.

“Se existem 20 hospitais no Brasil hoje que utilizam prontuário eletrônico é muito. E isso eu estou falando do eletrônico, não do único. A sociedade precisa se manifestar em relação a isso”, diz o professor, defendendo que a tecnologia é o caminho para aumentar a eficiência do setor de saúde.

 

Experiências no governo

Aplicações tecnológicas como o prontuário único são “um sonho de consumo”, segundo a secretária de Saúde de Juiz de Fora (MG), Elizabeth Jucá. Mas mesmo estratégias digitais mais pontuais e simples já ajudam. O município mineiro, por exemplo, fez campanha para estimular o uso de um aplicativo que alerta os pacientes sobre o horário de tomar o medicamento prescrito pelo médico. Dessa forma, o app permite a captura de dados dos usuários, interessantes na hora de se elaborar políticas públicas.

No entanto, muitos dos avanços na área ainda enfrentam uma barreira financeira, segundo a secretária. “Todos os gestores de saúde querem melhorar os gastos de saúde. Mas ainda enfrentamos o problema de a tecnologia ser muito cara. A integração de todas as informações em um prontuário único realmente é fundamental. Mas, algumas vezes, temos de optar por comprar a tecnologia ou comprar medicamentos. Aí, optamos pela segunda opção”.

Para Elizabeth, “não dá para gerir saúde sem tecnologia”, mas a maior parte do parte do país enfrenta uma realidade bastante distinta dos grandes centros urbanos. “Nós não temos conectividade na maior parte dos municípios brasileiros. É o contrário do que é visto em cidades como São Paulo ou Belo Horizonte, por exemplo. O próximo governo precisa adotar a inovação como uma política.

 

Soluções

Para a presidente da Optum, existem alguns aspectos importantes que o país deve trabalhar com o objetivo de solucionar esses desafios. Além de adotar uma identidade digital única dos pacientes para o acesso ao serviço público ou privado e investir na infraestrutura tecnológica de dados, Ellen destacou a importância de “garantir a interoperabilidade” (a capacidade de um sistema se comunicar com outro). Com isso, será possível alinhar padrões e conectar “representantes públicos e privados na construção de soluções”. “Tudo isso serve para nós ganharmos tempo e conseguirmos ter uma saúde mais humana”, diz.

 

 

Com informações do Site Época Negócios (07/08/2018)