Procedimento ocorreu pela primeira vez na região Norte e tem como objetivos reduzir filas de espera e ampliar o acesso ao atendimento especializado no país
O Ministério da Saúde realizou, na última quarta-feira (28), a primeira cirurgia cardíaca pediátrica com teleacompanhamento na região Norte. O procedimento, feito em uma criança de 1 ano e 4 meses, ocorreu no Hospital Francisca Mendes (HCFM), em Manaus (AM), com orientação em tempo real da equipe do Hcor, em São Paulo. A iniciativa integra Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS).
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, acompanhou a cirurgia de forma virtual, a partir de Brasília. “Estamos fortalecendo a capacidade local de atendimento, formando profissionais e garantindo que uma criança da Amazônia tenha o mesmo acesso e cuidado oferecidos nos grandes centros do país. Fiquei profundamente emocionado — é um marco que simboliza uma mudança de chave no SUS. Vamos usar toda a estrutura que o Brasil possui para reduzir o tempo de espera por atendimento médico especializado”.
A coordenadora de cardiopatia congênita do Hcor, Iêda Jatene, responsável pelo projeto em parceria com o Ministério da Saúde, destaca que a orientação a distância beneficia o paciente e toda a família. “A criança é atendida perto de casa, sem precisar se deslocar da sua região, no momento certo e com a mesma excelência, garantindo qualidade de vida no futuro”, afirma.

A cirurgia foi realizada pelo médico George Butel, um dos três cirurgiões cardíacos pediátricos do Amazonas. Segundo ele, a troca de experiências entre as equipes, promovida pelo Proadi-SUS, tem sido essencial para qualificar o atendimento às crianças com cardiopatia congênita na região.
“Os treinamentos e o telemonitoramento em tempo real nos permitem trocar conhecimentos e aprimorar técnicas. O Hospital Francisca Mendes já atua há quase uma década na cardiopatica congênita e atende pacientes de estados e até de países vizinhos”, afirma o cirurgião.
Expansão para o Nordeste
A iniciativa, que faz parte do projeto Apoio ao Desenvolvimento de Centros de Atendimento a Cardiopatias Congênitas, conduzido pelo Hcor em parceria com o Ministério da Saúde por meio do Proadi-SUS, auxilia Redes de Atenção à Saúde (RAS) das regiões Norte e Nordeste na ampliação da capacidade de atendimento a crianças com cardiopatia congênita. São oferecidos capacitação de profissionais, melhoria de processos assistenciais e compartilhamento de soluções digitais, reduzindo de forma significativa as filas cirúrgicas.
Seguindo o mesmo modelo do Hospital Francisca Mendes, o Ministério da Saúde está estruturando dois centros cirúrgicos no Nordeste, em parceria com o Hcor, por meio do Proadi-SUS. Os hospitais selecionados são o Hospital Infantil Albert Sabin, em Fortaleza (CE), e o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), em Recife (PE).
A iniciativa prevê capacitação de profissionais, melhoria de processos assistenciais e compartilhamento de soluções digitais, reduzindo de forma significativa as filas cirúrgicas.
Cardiopatia congênita
A cardiopatia congênita é uma malformação na estrutura do sistema cardiocirculatório que surge nas primeiras oito semanas de gestação. Essas alterações podem comprometer a circulação e a respiração do bebê, exigindo, em muitos casos, intervenção precoce.
No Brasil, estima-se que a cada mil nascidos vivos, 10 apresentem algum tipo de cardiopatia congênita — totalizando cerca de 29 mil casos por ano. Aproximadamente 80% dessas crianças precisam de cirurgia, muitas no primeiro ano de vida.
O SUS oferece, gratuitamente, o Teste do Coraçãozinho — exame simples e indolor capaz de identificar problemas cardíacos logo após o nascimento. O atendimento especializado também é garantido por unidades que realizam cirurgias cardiovasculares pediátricas em 20 estados e no Distrito Federal.
Como funciona a TAC
A Teleorientação do Ato Cirúrgico (TAC) é uma tecnologia que permite o acompanhamento remoto, em tempo real, de cirurgias cardíacas pediátricas. O sistema realiza a transmissão simultânea de dados, vídeo e áudio, conectando salas cirúrgicas de hospitais participantes a um centro de referência, possibilitando orientação técnica durante todas as etapas do procedimento.
Na cirurgia realizada em Manaus, a sala do Hospital Francisca Mendes foi equipada com câmeras, incluindo dispositivos posicionados na testa dos cirurgiões. A equipe do Hcor, em São Paulo, acompanhou o procedimento a partir da “sala espelho”, um ambiente digital onde os profissionais puderam visualizar todos os detalhes da cirurgia. A orientação ficou sob responsabilidade do cirurgião Marcelo Jatene, que conduziu a equipe local em tempo real.

Proadi-SUS
Criado em 2009, Proadi-SUS já beneficiou cerca de 5,6 milhões de pessoas até o quinto triênio (2021–2023), com investimento aproximado de R$ 11,5 bilhões. São cerca de 750 projetos voltados à gestão, assistência, capacitação, pesquisa e inovação no âmbito do SUS.
O programa é financiado com recursos de imunidade tributária concedida a hospitais filantrópicos de excelência, que aplicam esses valores em projetos definidos pelo Ministério da Saúde e alinhados às prioridades do SUS. Até 30% dos recursos podem ser destinados a ações assistenciais de alta complexidade, como transplantes e cirurgias especializadas, ampliando o acesso da população a serviços estratégicos.
Fazem parte do Proadi-SUS sete hospitais: A.C. Camargo Cancer Center, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa de São Paulo, Hcor, Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Moinhos de Vento e Hospital Sírio-Libanês.
Com informações do Portal Gov.br – 04.06.2025.