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Medicina “futurista” resolve filas e distância pela tecnologia

Uso de novos mecanismos mudou a relação entre médico e paciente e trouxe uma nova dinâmica para várias profissões tradicionais. Acompanhar a tendência é fundamental para quem quer manter a empregabilidade

 

A máxima de que “já não se fazem mais médicos como antigamente” deixou de ser um jargão popular para se transformar em exigência em uma das profissões mais tradicionais e disputadas nos vestibulares pelo Brasil. E essa mudança, que pode ser replicada à grande parte das carreiras – advogados, engenheiros, jornalistas –, deve-se principalmente aos novos recursos tecnológicos que surgiram nos últimos 20 anos e estão obrigando profissionais com carreiras consolidadas a se reinventar e os mais novos a não perder o ritmo com tanta novidade.

 

Orientações por WhatsApp, discussão de laudos por bancas médicas em locais remotos, além de todas as inovações que surgiram para melhorar a assistência ao paciente são apenas alguns exemplos práticos atuais que já fazem parte do cotidiano dos médicos.

 

 

Saúde pública

No Sistema Único de Saúde (SUS), iniciativas como o Telessaúde são uma forma de desafogar as filas de espera e “levar” médicos especialistas a regiões onde há carência desses profissionais. A Plataforma de Telessaúde do Ministério da Saúde, criada em 2007, é uma ferramenta online desenvolvida para solicitação de teleconsultorias e telediagnósticos pelos profissionais de saúde que trabalham nas unidades de saúde em todo o Brasil. O médico ou enfermeiro que acompanha o paciente pode trocar informações – por telefone ou pela plataforma, na internet – para esclarecer dúvidas ou mesmo definir diagnósticos com o auxílio de especialistas.

 

O médico de família e comunidade Carlos André Aita Schmitz, 46 anos, é bastante atuante na área de saúde, mas hoje só atua clinicamente como voluntário. Ele deixou o consultório médico para ser consultor técnico do Núcleo de Telessaúde do Rio Grande do Sul – que é referência para o Brasil. Schmitz, que também é professor adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que o Telessaúde está contribuindo para reverter alguns problemas crônicos no SUS gaúcho, como o longo tempo dos pacientes nas filas de espera para encaminhamento a especialistas.

 

Isso se deve ao trabalho de regulação das filas de especialidades médicas no Rio Grande do Sul. Só para citar como exemplo, o tempo de espera para atendimento de pacientes adultos que precisavam de consulta com neurologista diminuiu 93% em um ano – de 647 dias em janeiro/2016 para 48 dias em janeiro/2017. “O que era o futuro, já passou. Hoje tudo é interconectado. Nem no filme 2001, uma Odisseia no Espaço era possível ter a percepção de que a Medicina daria esse salto”, analisa Schmitz.

 

Com a visão futurista, o médico lamenta que apenas uma parte da categoria esteja aberta para essa nova linha de atuação no Brasil, que ainda enfrenta resistência das entidades de classe. “Até as universidades ainda investem pouco nessas novas tecnologias e não há um currículo forte nessa área”, comenta.

 

Seu colega de trabalho, o cirurgião-dentista Otávio Pereira D’Avila, que hoje é e teleconsultor em Gestão do Telessaúde do RS e professor da Universidade do Vale do Taquari, compartilha do mesmo pensamento. “Na área de Odontologia, a impressão que eu tenho é que a conduta clínica ainda é muito tradicional”, pondera e cita como exemplo o atendimento realizado a tribos aborígenes em regiões remotas da Austrália. “Há um técnico de saúde bucal no local, monitorado à distância por um cirurgião dentista. Grande parte dos procedimentos clínicos nos integrantes da tribo é feita por esse técnico, com a orientação remota do dentista. Isso tudo utilizando uma caneta de alta rotação que é usada para filmar a boca do paciente”, explica.

 

 

Medicina a distância

Já existem alguns mecanismos usados na área médica que permitem um trabalho sem a necessidade de presença no consultório:

Teleconsultoria: a teleconsultoria é a troca de informações entre o médico ou enfermeiro que está acompanhando o paciente no posto de saúde com o consultor – outro trabalhador da área da saúde – para estabelecer a conduta clínica em cada situação. O processo pode ser por chat, web ou videoconferência ou por mensagens off-line.

 

Telediagnóstico: o telediagnóstico é a elaboração de laudos à distância. É um serviço que utiliza as tecnologias da informação e de comunicação para realizar serviços de apoio ao diagnóstico através de distâncias geográfica e temporal.

 

Teleconsulta: é a consulta não presencial. O contato do médico com o paciente é realizado pelas mais diferentes plataformas virtuais (celular, internet, etc.).

 

 

Carreiras em revolução

O consultor Thiago Gaudêncio, gerente da Michael Page, consultoria que atua com recrutamento de executivos, diz que é possível perceber, de forma clara, que a tecnologia já afetou e ainda vai afetar todas as profissões existentes, nos mais diversos níveis. E, o “profissional do futuro” precisa estar atento a todas estas mudanças para não ficar defasado e ser substituído por um robô”, afirma.

 

Gaudêncio cita como exemplo o Watson, uma inovação da IBM que chega a ocupar posição no conselho de grandes corporações. “É o uso da inteligência artificial no dia-a-dia. O software é alimentado com as informações da empresa e é capaz de fazer projeções e apresentar estratégias para a corporação”, exemplifica.

 

Segundo o consultor, a rapidez tecnológica vem provocando uma intensa mudança dentro do mercado de trabalho e isso faz com que os profissionais que não acompanhem essa tendência, diminuam consideravelmente sua empregabilidade. “Em qualquer tipo de profissão a pessoa precisa conhecer essas novas ferramentas. O mundo não girou 180 graus. Deu umas cinco voltas em cinco anos”, sentencia.

 

 

Com informações do portal Jornal A Gazeta do Povo (29/09/2017)