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Covid-19 impacta comércio de produtos de saúde com árabes

Brasil importa de países árabes itens como sondas, cateteres, seringas, tubos, reagentes e instrumentos, mas compras caíram em função de fatores como menor realização de exames e cirurgias eletivas e alta do dólar.

São Paulo – O comércio de produtos de saúde do Brasil com os países árabes foi impactado pela covid-19. O mercado brasileiro importa mercadorias do segmento da região e essas compras caíram de janeiro a março em função de dificuldades decorrentes da pandemia, como problemas logísticos, valorização do dólar e queda de serviços de saúde em áreas nas quais os produtos são usados.

Nos primeiros três meses deste ano, as importações brasileiras de produtos de saúde de países árabes somaram US$ 1 milhão, um recuo de 42,8% sobre os mesmos meses de 2019. Os países árabes dos quais o Brasil comprou foram Egito, Emirados, Marrocos e Tunísia. Os números foram fornecidos à ANBA pela Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde (Abraidi), com base em dados da Aliança Brasileira da Indústria Inovadora em Saúde (ABIIS).

Os valores compilados pela ABIIS – da qual a Abraidi faz parte – englobam produtos do universo das entidades que a integram, como órteses e próteses, materiais descartáveis como seringas e curativos, equipamentos médicos de pequeno a grande porte, equipamentos de proteção individual (EPIs) como máscaras e luvas, respiradores, produtos para análises e testes como reagentes, instrumentos cirúrgicos, bombas de infusão, entre outros. Não fazem parte medicamentos e vacinas.

Os árabes exportam ao Brasil instrumentos e aparelhos para cirurgia, sondas, cateteres e cânulas, seringas, tubos, acessórios para tubos, reagentes de diagnósticos ou laboratórios, partes e acessórios para instrumentos e aparelhos para análises. “Houve queda nos exames eletivos, aqueles que não são urgentes, que o paciente pode fazer a hora que quiser, e ele não quis fazer no meio da pandemia. Houve um consumo menor no diagnóstico e nas cirurgias eletivas”, disse o diretor-executivo da Abraidi, Bruno Bezerra (foto acima).

Boa parte dos produtos vindos dos árabes estão ligados a cirurgias e exames. “A covid não necessariamente precisa de cirurgia”, afirma Bezerra. Essa protelação de serviços não urgentes vem ocorrendo em grande escala desde o início da pandemia no Brasil e no mundo e impactou não apenas as importações brasileiras dos países árabes, mas o comércio do setor de saúde como um todo.

O diretor-executivo da Abraidi acredita que outros fatores também afetaram a redução da importação de países árabes. Segundo ele, na área de logística houve redução da malha aérea disponível para o transporte dos produtos. O dólar se valorizou expressivamente diante do real desde o começo da pandemia, o que tornou a importação mais cara e menos competitiva. “Teve uma apreciação de quase 50%”, diz, levando em conta o valor do dólar na semana passada.

Também as empresas importadoras e distribuidoras do segmento precisaram lidar com a insegurança financeira diante da queda dos exames e cirurgias eletivas e da incerteza quanto à data de retomada dessas atividades. Bezerra acredita que as importadoras optaram por direcionar seus recursos para pagar os custos administrativos, na tentativa de sobreviver, e usaram estoques que tinham em vez de fazer novos pedidos. “Muitos não vão sobreviver a essa pandemia”, relata o diretor-executivo.

Somado a isso, muitos países proibiram a exportação de produtos ligados ao combate da covid-19, caso do próprio Brasil, e a maioria das empresas se voltou para o atendimento do seu mercado doméstico. A importação de EPIs aumentou, mas Bezerra lembra que uma máscara tem um valor muito menor do que uma prótese de joelho, por exemplo. “Teve aumento da importação de EPIs sim, mas os EPIs não vêm do Oriente Médio, não vêm dos países árabes, vêm da China”, afirma Bezerra.

Brasil que importa e exporta

Em produtos de saúde, o Brasil tem uma balança comercial deficitária, importa muito mais do que exporta. O fornecimento é concentrado e vem principalmente de Estados Unidos, Europa, China e Japão. O Brasil também exporta produtos de saúde e tem na exportação uma gama mais diversificada de parceiros comerciais, incluindo EUA, Europa, América Latina e Oriente Médio.

O Brasil exportou em produtos de saúde para os países árabes US$ 1,2 milhão de janeiro a março, com queda de 56% sobre igual período de 2019. Fatores parecidos com os da importação pesaram nessa queda. “A indústria brasileira talvez tenha focado suas operações para atender o mercado interno”, diz Bezerra. Ele acredita que a demanda interna seguirá alta no Brasil por alguns meses. “Agosto, setembro, o que é um palpite mais otimista. Um mais pessimista: até o final do ano”, afirma.

O diretor-executivo da Abraidi acredita que o comércio do Brasil com o mercado árabe de produtos de saúde, tanto exportações quanto importações, é pequeno. “Você tem uma oportunidade de crescimento absurdo nesse mercado, basta que o Brasil tenha um olhar estratégico para os países e eles tenham esse olhar estratégico de procurar outros parceiros. As oportunidades são enormes”.

Produções locais

Bezerra acredita que após a pandemia, os países tentarão se tornar mais autossuficientes em produtos para a saúde. Terão vantagem para isso os mais fortes em pesquisa e tecnologias, e com recursos para tal. No caso dos países árabes, o diretor-executivo lembra que eles têm os recursos do petróleo, mas acredita que precisarão determinar em que nichos, dentro da área da saúde, querem se desenvolver. “Investir estrategicamente nesse setor para um mercado pequeno, não vale a pena. É melhor expandir o comércio exterior, ampliar laços comerciais, buscar novos parceiros, mais vantajosos”, sugere.

No Brasil, o debate sobre um maior desenvolvimento da indústria de produtos de saúde já começou a ser feito, com o assunto levantado pelo ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que defendia que o País precisaria repensar sua cadeia de diagnóstico para não ficar tão dependente da China ou outro país. Segundo Bezerra, a discussão sobre o incentivo à inovação dessa indústria está ocorrendo agora na Câmara dos Deputados, incluindo assuntos como regras estruturais do sistema de saúde.

Abraidi

A Abraidi representa 280 empresas associadas, principalmente de importação e distribuição de produtos de saúde, e algumas fabricantes. A ABIIS é uma aliança formada por várias associações da área criada para a discussão de pautas comuns e para fazer avançar pautas que estão na agenda de todas. Bruno Bezerra, além de diretor-executivo da Abraidi, é 1º vice-presidente da ABIIS.

Com informações do portal da ANBA (11/06/2020)