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Após experimento de cientista chinês, OMS cria painel para estudar ética na edição de genes

Anúncio vem dias após He Jiankui revelar ter alterado DNA de bebês, que seriam os primeiros humanos editados do mundo.

 

GENEBRA – A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a criação de um painel para estudar as implicações éticas da edição de genes, poucos dias após um cientista chinês afirmar ter criado os primeiros bebês geneticamente editados do mundo.

— Isso não pode ser feito sem diretrizes claras — disse, em Genebra, Tedros Adhanom Ghebreyesus, o chefe do braço de saúde das Nações Unidas.

A organização reúne, agora, especialistas para discutir regras e diretrizes sobre “questões éticas e de segurança social”, informou Tedros, que é ex-ministro da Saúde da Etiópia.

Artigo: O limite entre a ousadia e a irresponsabilidade

Ele fez os comentários depois da revelação de que um ensaio clínico, liderado pelo cientista chinês He Jiankui, teria alterado com sucesso o DNA de duas meninas gêmeas — identificadas no experimento como “Nana” e “Lulu” —, com o objetivo de torná-las imunes ao vírus HIV, causador da Aids. O pai é HIVpositivo, e a mãe, não. Ainda não está claro se de fato as crianças estão protegidas do vírus. A técnica de edição genética utilizada pelo chinês foi o CRISPR .

A experiência de He Jiankui provocou críticas generalizadas da comunidade científica na China e em todo o mundo, bem como uma reação do governo chinês. A Universidade do Sul de Ciência e Tecnologia em Shenzhen, da qual He é professor e onde ele conduziu o experimento, afirmou não ter conhecimento do ensaio clínico. O chinês admitiu que não pediu autorização á instituição e que conduziu os testes por conta própria, bancando do próprio bolso.

O líder da OMS contou que a organização está no processo de criação do painel, mas evitou caracterizar a iniciativa como uma resposta direta ao caso do cientista chinês.

Ele também se recusou a especular se a OMS poderia imaginar um futuro em que alguma forma de edição genética pudesse oferecer benefícios para a saúde pública. O painel começará com “uma folha em branco”, disse Tedros.

— Eles podem começar perguntando: “devemos considerar isso?” — afirmou ele.

O grupo incluirá acadêmicos, bem como especialistas em saúde da OMS e de governos. Ele destacou que é preciso cautela ao se trabalhar com técnicas de edição genética, porque ainda não existem certezas sobre os resultados.

— Temos que ter muito, muito cuidado … Não devemos entrar em edição genética sem entender as consequências não intencionais.

Na semana passada, o Ministério da Ciência e Tecnologia da China enfatizou sua oposição ao experimento de edição genética de bebês e exigiu a suspensão das atividades científicas de He Jiankui.

As alegações do cientista chinês foram consideradas “chocantes e inaceitáveis” e violaram “a moral e a ética que a comunidade acadêmica adere”, disse o vice-ministro Xu Nanping à emissora estatal CCTV, alertando que o cientista pode ter violado a lei.

 

 

 

Com informações do Portal O Globo (04/12/2018)